Sinta-se

2 de fevereiro de 2016


Primeiro escreveu um texto imenso sem pontuação alguma sem espaços ou qualquer sinal de parada porque não havia nada parado ali dentro apenas uma vontade incontrolável de despejar ideias negativas ruins sem nexo mas cheias de sentimento desesperado e vontade de chorar GRITAR e mandar meio mundo à merda. Não. Ninguém pode se encontrar em meio a tanto caos.

Então apagou.

Tentou de novo. Respirou fundo e foi escrevendo o que sentia. Usou pontos finais. Leu tudo depois. Viu. Que. Os. Pontos. Não. Faziam. Sentido. Sentiu-se presa entre pontos finais e sua capacidade invejável de concluir as ideias. Limitar. Os limites são um problema. Os limites são o problema.

Então apagou.

Pegou um espelhinho... Olhou-se e não se viu... Mirou os olhos vazios por horas e sentiu a queimação no estômago. Queria parar. Arrancar a gastrite com a mão. Equilibrar as barras, vírgulas, uma caralhada de travessões que a comprimiam, pontos finais que a restringiam e vontades condenáveis de ser reticente quando tudo que a obrigavam a fazer era ser exata. Seca. Pontual. Queria berrar, essa é que era a verdade. Permitir-se o inadmissível, mergulhar na escuridão na esperança de que, ao não ver mais nada e nem ninguém, conseguisse finalmente se enxergar. Mas não berrou. Não mergulhou. Não se viu. Leu o que tinha escrito e teve medo de expor o que não devia.


Então apagou.