"Isso não é coisa de Deus, meu filho, é coisa do homem"

16 de janeiro de 2008

- Fala mãe, tudo bem?
- não (choro)
Forte dor no estômago, fraqueza nas pernas, sensação de já ter sentido aquilo antes
- que foi? (minha vó, meu Deus, minha avó!)
- aconteceu uma coisa terrível...
- que foi? (choro)
- um acidente , seu tio
Incompreensão absurda, pessoas sumindo à sua volta, dor no peito, lágrimas
- como aconteceu?
- não sei, vamos passar aí pra te pegar
Deliga o telefone
- O QUE FOI? O QUE FOI?
pessoas voltam a aparecer. Parecem preocupadas, e é só isso que ela sabe sobre essas pessoas...estão preocupadas...será que elas não perceberam como tudo mudou de repente?
- Meu tio...preciso ir pra casa...agora
Um braço muito amigo abraça tentando confortar, mas não consegue.
Ela ainda tem que esperar um tempo pra ir pra casa...pensar na dor torna tudo tão absurdo que ela prefere não pensar.
Quando finalmente chega em casa, as pessoas já sabem do ocorrido.
Ela preferia que eles ficassem em silêncio...pior é ouvir: "ele era tão novo"...ela ainda ouviria isso por alguns meses. E ainda se sentia culpada de ficar tão triste, ela tinha que ser forte, pra ajudar a tia e os primos...a dor dela não era nada perto da deles. Ela nem imaginava o que era a dor deles.
Seus pais chegaram.
Viagem silenciosa.
Os irmãos dormiram, só quando ela também fechou os olhos ouviu o choro do pai...eram como irmãos.
Chegar na cidade dele foi como receber a notícia novamente. Ela nao queria estar ali, ninguém queria.
O filho mais novo chorava.
O filho mais velho não. Tinha febre.
A tia fingia uma força que não tinha. E quem tem?
Demoraram várias horas até que começasse o velório. O caixão ficou aberto por alguns minutos, nem a mulher nem os filhos queriam ver o pai daquele jeito.
Ela viu.
O rosto estava diferente, foi o máximo que conseguiram arrumar.
- Não é meu tio
Fraqueza nas pernas novamente.
E então abraçou alguém que estava perto. Não conseguia rezar. Não conseguia entender. E quem entende?
Chorou, a noite inteira, o dia seguinte inteiro, o mês, o ano inteiro depois. Porque toda vez que ia dormir se lembrava dele, e então entendia que a vida era tão frágil que chegava a ser ridícula.
Desde então ela está doente.
Finge não saber porque.
A doença é o medo da morte, não da própria, mas dos outros.
A doença é o símbolo da fraqueza e incompreensão.
A doença é o ponto fraco dela... e ela não espera que alguém entenda...

1 pitacos:

cris disse...

oi ma adorei seu texto ..nao sei se pq hj to me sentindo assim em relaçao a acontecidos recentes mas sei la amei ..vou roubar e dar pra umapessoa especial q ta precisando dele...depois te pago os direitos autorais viu!!

bjao cris