Ferida

27 de setembro de 2012

Quando menos esperava, a ferida se abriu.
Dolorida, fétida e incrivelmente profunda.
Revelou-se diante de todos, sangrando sob o curativo aparentemente limpo.
A princípio, olhou pasmo enquanto ela sangrava e extravasava pus, para depois, passado o susto, tentar fechá-la novamente. Cada palavra doce ardia como álcool e cada tentativa de limpeza como provocação. Empapava de sangue panos e mais panos. A dor era tanta que cogitou arrancar de uma vez o membro ferido, tirar a parte que doía, ir pelo caminho mais fácil, por mais que isso lhe custasse uma parte do corpo que, se não vital, era fundamental em suas ações.
Optou por esperar. Manteve a ferida aberta e exposta para que dela saísse tudo de ruim que havia no corpo. Quando sentiu que já era suficiente, limpou-a cuidadosamente com iodo. Sem anestesia, costurou-a. A dor insuportável lhe deu a sensação de cura. Cobriu-a com uma gaze limpa e a fechou, agarrando-se, inseguro, à esperança de que ela nunca voltasse a se abrir.

2 pitacos:

Marina disse...

O mais engraçado é que, quanto mais dói para cicatrizar, mais a gente sente que nunca mais vai doer.

Ótimo texto, Ma.

Tyler Bazz disse...

Caralho você nem me avisa que tem uma porrada dessas aqui.

Haja band-aid :(