6 de fevereiro de 2012

Soltou um suspiro e se virou de lado, parte inconformada, parte decepcionada.
Não acreditava em como tinha sido ruim.
Como era possível?
Antes da cama, havia química, humor, carinho, atenção, tesão. Amor não, isso nem interessava a ela naquele momento, mas tinha todo o resto.
E agora...
Agora nada.
Horas antes, havia dito a ele - com carinha de safada - que estaria livre naquela noite.
Ele respondeu um "Ah, ok" que poderia ter servido de aviso do que iria acontecer.
Mas ela preferiu fingir que via alguma empolgação nos olhos dele, ali, escondidinha atrás do cansaço e da indiferença. Agora tinha a impressão de que, na tentativa de parecer sensual, tinha se oferecido demais.
Não dava pra saber o que dava mais raiva, se a decepção da experiência ou a insegurança em relação a si mesma.
Em sua cabeça, uma frase de desenho animado ecoava: "Eles vêm, comem e vão embora. Eles vêm, comem e vão embora". Não se lembrava nem do desenho, nem do contexto de onde isso havia saído - assistia muitos desenhos com o sobrinho de dois anos - mas se lembrava de uma formiga repetindo a frase como um mantra, encolhida de pavor.
Eles chegaram na casa dele, beberam uma taça de vinho, meio sem jeito se beijaram e se empurraram até  a cama, atrapalharam-se na hora de tirar as roupas e pá, pá, pá.
Ele gozou e foi correndo pra sala pra atender o telefone que insistentemente tocou durante os cinco minutos de sexo.
Ela ficou lá. Semi-nua e com frio.
Suspirou e se virou de lado. Sentindo que ia chorar se levantou, pôs a roupa e ficou esperando ele voltar da sala.
Ele vem, come e vai embora.
E ela?
Ela fica sozinha.



Inspirado na música Sexo (Zélia Duncan)

9 pitacos:

Deni disse...

Tava precisando ler algo assim: sensível, com gosto de pura realidade. Brigado, Má! Beijão!

Marina disse...

Nossa, essa deve ser uma das piores sensações do mundo, quando acontece. Mas depois, ela percebe que se o cara se importa com ela "parecer oferecida demais", não deve ser o cara certo.

Ótimo texto, Ma.

raylsonbruno disse...

Gostei do texto! Sincero e um tanto cru.

Junior Nannetti disse...

Já disse que gosto do que vc escreve? Acho que sim, né... Da outra vez. Bem, sabe o que é legal no seu texto? É que vc retrata a realidade com objetividade e até um certo requinte de crueldade, mas sem deixar a poesia de lado. Sem deixar o "romantismo", inerente ao tema, de lado. E o mais sensacional: é praticamente impossível começar a ler e não terminar. Quem começa, fatalmente termina de ler. Bem, agora que venha seu livro. Serei o primeiro da fila a querer seu autógrafo. Beijos.

Aline Pinatti Cunha disse...

Parabéns Marina, muito bom o texto... E sabe que pensando bem pra algumas pessoas é bem assim mesmo!!
Beijos

bor disse...

marininha, minha linda! vc sabe como gosto do que vc escreve, né? só que desta vez serei voz dissonante: faltou um pouco de ironia no tratamento dessa "pobre vítima do descaso masculino", né não? tadinha, tão romântica e tão explorada... e os homens, tão cruéis e insensíveis... mas a dita cuja não admitiu que não estava interessada em amor? mas... ah é, estou esquecendo, é possível romantismo sem amor... onde mesmo? no planeta da cinderela? eu quero dar, ele quer comer, mas a gente finge que não é só isso, pode ser? quem está enganando quem mesmo? quem está explorando quem mesmo?
o problema nem é a personagem, é esse narrador aderido a ela: a coitada está frustrada porque não gozou (mulher demora mais, não é mesmo? e a culpa é do homem que não se responsabiliza pelo gozo dela...), e transforma a frustração em filosofia de vida. mas o narrador pactuar com essa filosofia? sei não...
ainda uma coisa: a inspiração. adoro "sexo" (passe o trocadilho...), talvez daí minha implicância: "pode ser bom, mas pode ser não" - nada obriga que seja sempre bom, né? e quando não é, qual o problema? sexo é construção - e nesse caso, a construção é a quatro mãos, não dá pra esperar que o outro construa o que a gente quer... ou melhor, que o outro adivinhe o que a gente quer construir...
desculpa aí, mas acho que, para que seu texto dialogasse com a música, faltou um narrador não tão vitimizado quanto a personagem... "sexo não é abuso" - ou não deve ser, de nenhuma das partes...
perdoa a ranzinzice do seu velho amigo velho, que acha que já aprendeu algumas poucas coisas na vida? ;D
beijão!
lando

littlemarininha disse...

Oi Lando! Lindo da minha vida! :)
Sempre um prazer receber um comentário seu! E não tô sendo irônica, sempre falo para as pessoas comentarem, mesmo quando não gostam ou não concordam com o que eu escrevo. É assim que a gente evolui, não é? Recebendo críticas construtivas. =)
Mas vamos lá, quanto ao texto, não vejo a personagem como vítima. Não do homem, pelo menos, talvez dela mesma. Acho que a raiva e a sensação de abandono são criadas mais pela expectativa que pelo ato do cara em si.
Pra mim, a questão não é ela gozar ou não, acho que o problema é a forma como as coisas acontecem. Eles só queriam sexo. Ok, sem problemas. Não precisa de romantismo nisso e nem imagino que ela estivesse buscando isso, mas vamos combinar que cinco minutos, um telefone tocando, e o cara levantar pra atender o telefone é o cúmulo. Acho que eu ficaria putíssima, independentemente de amor ou não amor. É brochante em qualquer situação.
Quanto à música, "Quando o Sexo acaba, tudo desaba. É uma questão de construção". Concordo que não dá pra esperar que um construa o que o outro quer, não é nem isso que discuto. Só deixo claro o fato de que a construção, nesse caso, desabou, e pra personagem ficou essa sensação de vazio e insegurança.
O narrador concorda com a personagem porque ele é a personagem. A ideia era justamente narrar o que passava na cabeça dela, daí a falta de ironia que você ressaltou.
Enfim, a ranzinzisse do meu amigo está perdoada se ele perdoar a minha defesa a unhas e dentes da personagem, hahaha
Beijos, querido!
Precisamos discutir mais a respeito numa mesa de bar!
:)

Anônimo disse...

Acho que esse tipo de acontecimento descrito, na realidade, é mais uma amostra de que interações sociais são relações de poder, do que egoísmo de uma das partes, como no caso do texto, o homem. Cabe ao lesado na situação tentar resgatar ou a faca, ou o queijo, ou ambos, e tentar sempre equilibrar essa distribuição de poder, se a intenção for a busca de um relacionamento mais saudável com essa determinada pessoa.

José María Souza Costa disse...

Interessante

CONVITE

Primeiro, eu vim ler o seu blogue.
Agora, estou lhe convidando a visitar o meu, e se possivel seguirmos juntos por eles. O meu blogue, é muito simples. Mas, é leve, dinamico e sobretudo Independente. Palpitamos sobre quase tudo. Diversificamos as idéias. Mas, o que vale mesmo, é a Amizade que fizermos.
Estarei grato, esperando VOCÊ, lá.
Abraços do
http://josemariacostaescreveu.blogspot.com