Bailes da Vida

2 de dezembro de 2011

Histeria. Choro. Sorriso besta. Falta de palavras. Garganta seca.
Quem nunca imaginou como se sentiria quando se encontrasse com seu ídolo?
Quem nunca sonhou que jantava com aquele ator?
Quem nunca quis trombar na rua com aquele cara que cantava músicas perfeitas para cada momento de sua vida?
Quem nunca?


Pois é, eu nunca.


Não que não tenha ídolos, tenho muitos, mas meus herois morreram de overdose, ou, em alguns casos, como no da citação, de aids. Ou estão velhos e provavelmente não frequentam os mesmos lugares que eu - o que impede um esbarrão acidental.
Por esses motivos, principalmente, nunca tive muito desses faniquitos de fãs.
E, bom, nunca ter pensado nisso se tornou um problema quando, por ironia do destino, acabei trombando com um dos meus ídolos na empresa onde trabalho.
Um ídolo velho, não um ídolo morto. Melhor deixar isso bem claro.
Pra quem não sabe, trabalho numa empresa de edição de audio, tradução e dublagem. Vira e mexe aparecem atores famosos, mas nenhum que inspire ataques de tietagem da minha parte - tirando o Dr. Abobrinha, claro, que tá sempre por aqui e... Ah, qual é?! É o Dr. Abobrinha, poxa vida! O maior vilão da minha infância! Merece admiração.
Enfim, no começo do ano a empresa pegou um trabalho grande de dublagem e o cliente exigiu que a voz do narrador fosse feita por ninguém mais, ninguém menos que Milton Nascimento.


Uau!


Quando soube disso, fiquei estranha.
Se misturar tudo o que citei na primeira linha do texto dá pra ter ideia do que senti quando mencionaram esse nome. Um frio engraçado na barriga. A mesma coisa que senti quando Paul McCartney cantou Eleanor Rigby no Engenhão. Não dá pra explicar.
A ordem do chefe foi clara: Ninguém fala com o Milton.
A não ser que ele falasse com alguém, mas como o cara é tímido isso obviamente não aconteceria.
Bom, falar não podia, mas ver podia, certo? Ninguém falou nada sobre ver.
Então me posicionei estrategicamente no corredor por onde ele ia passar, com um café, como se meu trabalho fosse ficar lá parada.
E, bom, ele passou. Passou em câmera lenta. A princípio pensei que fosse efeito da minha admiração, depois vi que ele andava devagar mesmo, com certa dificuldade.
A patroa passou por mim e riu, claro, porque ela, ao contrário do Milton, sabia que meu trabalho não era ficar tomando café ali no corredor com cara de paisagem. Então, sem mais nem menos, ela quebrou a regra do chefe.


- Ei, vem cá!
- Ah... Eu?
- É, vem cá. Milton, essa é a nossa tradutora mais jovem. Ela é sua fã.
(Milton não fala nada)
(Eu não falo nada)
(Patrão resolve falar) - Marina, Milton. Milton, Marina.
(Milton não fala nada)
(Eu não falo nada)
(Patrão resolve falar de novo) - Pode cumprimentar.
(Milton não fala nada)
(Eu quero falar que meus pais colocavam as músicas dele pra eu dormir, que pra mim ele era a melhor voz da música brasileira, que minha vontade era me jogar aos pés dele e agradecer por Bola de Meia, Bola de Gude, por Coração de Estudante e pela interpretação dele de Cálice. Mas só abro a boca e não falo nada)
(Patrão, desconcertado, fala de novo) - Marina, ele não morde.
(Então digo algo admirável, algo que qualquer fã pensaria em dizer ao seu ídolo)
- Não me morda, Milton.


Todos riem e eu vou embora. Só na escada paro pra pensar no que falei e tenho um ataque de riso que dura 20 minutos. Meu primeiro pensamento é: "Nunca vou contar isso pra ninguém". Mas, depois, pensando bem, é ridículo demais pra não ser compartilhado.


Se trombasse na rua com seu maior ídolo e só pudesse dizer uma coisa a ele, o que diria?
Imagino que algo diferente de "Não me morda".


Bom, pelo menos ele não me mordeu.

7 pitacos:

Natalia Máximo disse...

Hahahaahaha, que mágico! São tantas sensações que nem dá pra prever o que vamos fazer na hora, né?
Nunca encontrei um ídolo, mas espero que esse dia chegue, porque eu também mereço!

Anônimo disse...

AUSUHASHUSAHUASUHSAHUHUSAUHASUHASUHAUHSAHUUHSAUHSAHUSAHUSAHUSAHUSAHUSAUHAUHSAHUSAUHHSA DEMAIS!!! não acredito q vc falou isso??? auhsuuhahsuhuahushuauhsa beeeemmmm a sua cara..morri de rir..sério. só vc Ma...


Nani

Helena Cury disse...

morri de rir! hahahahaha

tenho vergonha dos meus ídolos. quando fui assistir o hamlet do wagner moura, era meu aniversário, e aí minha familia resolveu que ia falar com alguem pra ver se dava pra eu conhecer o elenco porque era meu aniversário e eu tinha escolhido estar lá, e tudo isso. eu entrei em panico. disse tipo, "NÃO" e aí o resto da familia, principalmente a gabriela "aai, para de ser boba" (procurando alguem da produção pra conversar) e eu queria sumir! Às vezes eu penso que eu queria falar tudo, mas não queria falar nada, sabe? E sou mó tímida. Então prefiro ficar de boa. haha. Mas muito bom, Má. É sempre útil ter um "não me morda" guardado na cartola.

Marina disse...

HAUAHUAHUHUAHUAHAUHAUA! É, acho que não falaria "não me morda", mas seria algo igualmente ridículo.

Morri de rir.
Beijos.

Junior Nannetti disse...

Olá Marina... Como prometi, dei uma passadinha aqui no seu Blog. Menina, vc tem talento, viu. Seu texto prende o leitor. Li do começo ao final sem respirar, hehe. Sua saga com o Milton foi fantástica. Ele é de Três Pontas/MG, uma cidade do lado da minha. Fica sempre lá. Na cidade dele todos o conhecem por um apelido que não me recordo agora. É curioso, pois lá ele é um ilustre morador, mas ao mesmo tempo todos o conhecem pessoalmente e o tratam normalmente. Coisas da vida. Entendo totalmente sua histeria. O meu caso é mais ridículo que o seu. Eu trabalho com artistas há quase 20 anos. Promovendo e produzindo shows, peças de teatro, além de contatos em TV, etc. Já tive contato com inúmeros artistas e isso acabou virando uma coisa normal pra mim, MAS... um cara que, o dia que eu encontrá-lo pessoalmente, certamente eu vou ficar mudo e reverenciar, é o Sílvio Santos. Vc deve estar rindo agora, mas ele é meu Ídolo maior. Esse é o cara que eu tieto mesmo. Faria isso tb com o Michael Jackson, mas infelizmente não posso mais. Acho que idolatrar o Sílvio Santos é mais cômico, não acha? Mas fazer o que? O cara é FODA!!! Bem, já escrevi demais. O blog é seu, hehe. Beijo e boa sorte aí, menina bonita!

Peterson Quadros disse...

Que encontro fabuloso e que frase mais pragmática! No pequeno conjunto de palavras “tudo” estava implícito. Sua topada com o Milton fez o meu domingo. Adorei! Obrigado pelo texto.

Anônimo disse...

Legal GAROTA, você disse que ia escrever e escreveu!!
Mas mantenho minha opinião, isso é "mulherzisse"!! hahaha