Terapia

10 de novembro de 2011

Oi... Meu nome é Marina e estou sem café há 2 meses.

Ooooooi, Mariiiiiiiina

Estar aqui já é uma grande conquista, sem dúvida.
Essa é a primeira vez que tenho coragem de procurar ajuda. Sempre achei que não precisava, que tomava café feito louca porque era gostoso e quentinho e tinha aquele aroma maravilhoso e... Vou parar por aqui porque tô ficando com água na boca.
Enfim, vocês vão se espantar com o que vou dizer, mas comecei a tomar café ainda criança.
Não, meus pais não deixavam. Diziam que não era coisa pra criança, que tirava o sono, mas tomavam com tanto gosto que não pude conter a curiosidade.
Provei uma vez.
Como dizem, às vezes uma vez já é o suficiente pra viciar.
Pra mim, foi.
E de fato perdi o sono. Não dormia a noite e ficava com sono de dia, o que me obrigava a tomar café pra não dormir. De tanto café pra não dormir na escola, não dormia durante a noite... Criei, aos 10 anos, um ciclo vicioso.
Até o ciclo era vicioso.
Minha mãe fez vista grossa a princípio, não queria acreditar, mas depois, quando comecei a oferecer trabalhos domésticos aos vizinhos em troca de uma xícara de café, resolveu interferir.
Sabendo que seria inútil me proibir de tomar café, já que ao lado da escola havia uma padaria com o melhor pingado da história, ela decidiu controlar meu vício.
Um café pela manhã. Um café às seis da tarde.
Só.
Ela mesma cortou o cafézinho que tomava depois do jantar pra me ajudar.
Durante alguns anos, funcionou. Até que entrei na faculdade.
Eu saí da casa dos meus pais e precisei passar noites em claro para entregar os trabalhos e estudar para as provas. Quando vi, estava tomando de quatro a cinco cafés por dia.
Com o tempo, o café parou de me tirar o sono, o que me permitia tomar a noite inteira e ainda ter um sono tranquilo.
Ao longo dos cinco anos da faculdade, convivi com uma gastrite que por muito pouco não se transformou em úlcera.
Fiz de tudo pra não morrer de dor de estômago: cortei refrigerante, gordura, cerveja... Cheguei até a tomar batata crua batida com água. É, eu sei, nojento. Fiz de tudo, menos cortar o café.
O café era sagrado.
Depois da faculdade então, tudo saiu dos eixos de vez.
Onde eu trabalho tem uma garrafa de café que fica cheinha o dia inteiro. A moça do café faz um novo a cada 3 horas.
É o diabo.
Às vezes tô fechada na minha sala, na maior inocência, e vem aquele cheiro delicioso de café sendo feito. 
Eu surto. Não consigo trabalhar enquanto não pego um copo e tomo de goladas.
Tem uma técnica pra tomar café fervendo de goladas, o tempo certo de espera, a força do sopro, a posição da boca. São técnicas que a gente aprende com o tempo.
São técnicas que quero esquecer.
Este ano fiquei doente. Uma doença que não quero revelar, basta vocês saberem que o remédio me impedia de ingerir cafeína.
Tentei tomar café sem cafeína, mas descobri que é pior que cerveja sem álcool.
Foram as três semanas mais difíceis da minha vida.
Passei noites em claro, chorei de desespero, dormi em momentos inoportunos, tive dor de cabeça, ataques de raiva, quase fui presa ao invadir um velório em busca de um copinho que fosse de café frio, cheguei a sonhar que era jogada numa xícara de café gigante e morria queimada. Acordei com febre.
Foi quando percebi que talvez aquilo não fosse normal.
Procurei ajuda na internet e descobri esse grupo.
Hoje, cortei relações com a moça do café. Carrego um vidrinho de acetona na bolsa pra cheirar toda vez que ela faz um café novo. Cada segundo é uma luta, cada gole de água é uma decepção.
Sei que tenho que viver um dia de cada vez. Cada dia um novo desafio.
Mas eu vou conseguir.
Obrigada.

Clap clap clap clap clap clap clap clap clap

Obrigado por compartilhar, Marina. Agora faremos uma pausa para um café. Voltamos em 20 minutos.

6 pitacos:

Anônimo disse...

Oiiiiiiiiiiiiiii Marina!
hahahahha
esse e o da "Tuppeware" (METAMORFOSE) são os que eu mais gostei dos seus textos mais no estilo "engraçados"
bjo

Bonaldi disse...

Sei bem como é, tou na luta pra parar também, diminuir já foi uma vitória - por ordens da psicóloga ainda por cima!

Anônimo disse...

Muito bom, Mah!
Desconheço esse vício porque não gosto muito de café, mas a carapuça serve para outros, neh?
Bjos

Anônimo disse...

Sério que você largou o café GAROTA?
Continuo viciadissimo... o que nós vamos tomar então??

Natalia Máximo disse...

MEU DEUS, MEU DEUS
Muita boa sorte nessa dura jornada, viu. Nunca gostei de nada no café além do cheiro, mas conheço muita gente que passa por essa sofrível experiência.
Estamos contigo nesse grupo de apoio. As paradinhas pro café só acontecerão quando a senhorita se ausentar da sala!

littlemarininha disse...

Gente, muito obrigada pelo apoio. Cada dia é um desafio, mas sei que, com a ajuda de vocês, vou passar por cima do vício =)
Obrigada!

clap clap clap