Vereda da Salvação

13 de dezembro de 2012

Hoje acordei com os pés virados para a cabeceira da cama.
Sonambulismos à parte, não demorou muito pra que eu percebesse que não era só o corpo que estava de cabeça pra baixo.
Ontem, apresentei pela última vez a primeira peça da minha vida. Diante de uma plateia lotada e receptiva, compartilhamos nosso trabalho de meses, um texto pesado de Jorge Andrade, na esperança de que todos saíssem, no mínimo, tocados com o que tinham visto.

Lembro bem de que, no começo do semestre, todos se preocupavam em não transparecer que essa era a nossa primeira peça. Ontem, descobri que isso já não importava. Percebi que um grupo unido como o nosso não precisa se preocupar com esse tipo de coisa, que quem dá o seu melhor consegue coisas impressionantes.

Nós conseguimos coisas impressionantes.
Sempre gostei de teatro, mas faz pouco tempo que descobri que o que é mostrado à plateia é resultado de um trabalho monstruoso. Se você não é de teatro e sabia que as apresentações exigiam muito trabalho, pasme, elas exigem muito mais trabalho do que você imagina.

Lidamos com egos, problemas pessoais, opiniões contrárias. Escolhemos um texto denso e difícil de decorar, lidamos com o medo de entrar no palco e a vontade de mostrar tudo que aprendemos ao longo desses meses, isso sem pensar no trabalho que dá cuidar da parte técnica, do figurino, da iluminação, da trilha sonora e da montagem de palco.


Foi bom ver que, no fim das contas, todos esses meses de dedicação renderam um trabalho lindo e digno do texto escolhido. Talvez nem todos da plateia tenham gostado da peça em si, principalmente pelo tema que ela aborda, mas tenho certeza de que todos perceberam o quanto cada um se entregou ao papel que representava.


E que delícia isso!

E que delícia ouvir os aplausos!


Hoje, parece que meu coração saiu pra dar uma volta e deixou um vazio esquisito aqui dentro. É estranho não ir ao teatro, não entrar no camarim, não me besuntar inteira com pancake pra ficar com a cor da "Gabriéééla". É estranho demais saber que o momento tão sonhado de entrar no palco já veio e já passou, e que esse grupo tão unido e engraçado pode não ser o mesmo no próximo semestre. Mesmo que o grupo seja o mesmo, tudo será diferente.

Passou.

E isso não me deixa triste, só me deixa, sei lá, vazia.
Quando a plateia se levantou e bateu palma, na última sessão, senti como se tivesse percorrido um caminho longo e sinuoso, escuro em alguns momentos, mas que finalmente se iluminava e chegava ao fim. Era a nossa Vereda da Salvação. Um caminho alumiado de estrelas, onde os anjos passa voando, e é nele que a gente sobe para o paraíso.

Ontem, encontrei o paraíso ao lado de pessoas que amo muito e que, mesmo longe, vou continuar amando.
Obrigada a todos que, em maior ou menor proporção, ajudaram para que esse processo fosse bem sucedido.
E me desculpem o tom emotivo, mas é que, parafraseando Drummond, esse vazio depois de tanto trabalho e essa mescla de alegria com tristeza "deixam a gente comovido como o diabo".