Lembra se puder

16 de abril de 2012

Tem coisas que a gente não quer ouvir.
Tem coisas que a gente não tem coragem de falar.
Lembrei, dia desses, daquela tarde quente.
Poucos dias antes, eu tinha recebido a notícia mais esperada do ano.
O resultado do vestibular.
Com a notícia alegre veio um fato doloroso e inevitável.
Eu ia me mudar. Pra longe.
Abria-se, diante de mim, uma estrada nova e luminosa. Dependia apenas de mim mesma andar por ela e ir a algum lugar que valesse a pena.
Eu ia. Você sabe que eu ia.
Por mais que eu te amasse, eu ia seguir em frente e lutar por... Na época eu nem sabia por que ia lutar, mas sabia que lutaria e daria meu melhor para chegar longe.
Eu sempre fui durona, você sabe disso.
Um dia antes de eu ir embora aconteceu, então, o que eu não queria que acontecesse.
A gente foi até aquele lugar de sempre.
Talvez por não saber como falar, você pediu que eu ouvisse aquela música e prestasse atenção na letra.
Ato de covardia, pensei eu, na hora.
Ato poético, penso eu, agora.
De qualquer forma, fiquei algum tempo sem conseguir lidar com a música que você usou pra terminar o que a gente tinha e que era tão bonito, tão importante pra mim.
Tem coisas que a gente não quer ouvir.
Mas nos obrigam.
Tem coisas que a gente não tem coragem de falar.
Mas, com o passar dos anos, consegue.
Queria dizer que sua música virou minha. Que, hoje, eu conheço o medo de ir embora e sinto na espinha o frio de gritar pro mundo e saber que o mundo não presta atenção.
Queria dizer, enfim, que o futuro agarrou, de fato, a minha mão.
E não soltou até agora.
Anos se passaram até que eu pudesse lembrar disso sem me sentir mal.
A lembrança agora, como eu mencionei antes, ganhou seu toque poético.
No fim das contas, você, usando a letra de Oswaldo Montenegro, tinha razão.
Embora não parecesse, a dor ia passar.
De algum jeito ia passar.


Estrada Nova - Oswaldo Montenegro