Desde que me conheço por gente, funciona assim:
Eu acordo cedo, depois que toda a casa já acordou e entrou em movimento. Saio da cama, escovo os dentes, lavo o rosto, arrumo o cabelo e o pijama - como se acordasse sem cara de sono todas as manhãs - e vou até a sala de jantar me preparando para a surpresa.
SURPRESA! BOM DIA! PARABÉNS, QUERIDA!
Abraço minha mãe, meu pai, minha irmã e meus irmãos, admiro a mesa de café da manhã repleta de gostosuras e sorrio quando vejo o arranjo de gérberas com um cartão que está sempre assinado por todos, inclusive pela minha cachorrinha. Gérbera é minha flor preferida.
Abraço minha mãe, meu pai, minha irmã e meus irmãos, admiro a mesa de café da manhã repleta de gostosuras e sorrio quando vejo o arranjo de gérberas com um cartão que está sempre assinado por todos, inclusive pela minha cachorrinha. Gérbera é minha flor preferida.
A gente toma café falando da vida e rindo e discutindo como vai ser a festa naquela noite.
E o dia é uma loucura. Arruma aqui, limpa ali, minha mãe surta - porque ela sempre surta antes das festas - e no final está tudo pronto.
Então chegam os amigos.
Quem me conhece sabe que, no geral, são muitos.
A casa fica cheia de gente e de sorrisos e de abraços e de beijos e de olhares de orgulho e de tias que se admiram com a velocidade com que o tempo passa.
Alguns anos atrás, eu preparava brincadeiras para as festas. Pensava em como me divertir com os amigos, em como fugir na hora do Com Quem Será, em como fingir que estava feliz por ganhar uma roupa e não um brinquedo.
Achava, inclusive, que gostava tanto de aniversários por causa dos brinquedos. Bonecas não. Nunca gostei de bonecas. Brinquedos! Bola, peteca, jogos de tabuleiro...porque não gostava de estar sozinha nem na hora de brincar.
Mas os anos foram se passando e comecei a ligar cada vez menos para os presentes.
Gostava das festas e pronto. Com presente, sem presente, com frio, sem frio, com bolo, sem bolo, com brigadeiro, com brigadeiro (brigadeiro é obrigatório), e sempre, após a festa, eu ia dormir me sentindo a pessoa mais feliz do mundo.
Isso até sábado passado.
Sábado passado foi meu aniversário.
Minha mãe teve de trabalhar a manhã toda e, quando acordei, já eram 11 horas da manhã. Simplesmente me levantei e fui pra sala, com cara de sono mesmo. Abracei quem estava acordado e ganhei uma flor linda, num cachepô mais lindo ainda. Sentei e tomei café. Minha mãe chegou mais tarde com um buquê - com gérberas - e almoçamos correndo pra arrumar as coisas pra festa.
As pessoas chegaram e me abraçaram e sorriram e trouxeram presentes.
Nenhum brinquedo.
Mas tudo bem, afinal, só o corpinho e a altura são de criança, as velas do bolo já apontam uma idade relativamente avançada.
Ta, avançada não, mas avançada demais para esperar brinquedos no aniversário.
E a festa foi linda! Muitos amigos, muita comida boa, muitos tios e primos.
Cantaram parabéns, e eu não me escondi no Com Quem Será. Pra ser sincera, queria que tivessem algum nome pra cantar no final da musiquinha, mas ninguém sabia o que dizer, nem eu, então pulamos essa parte e fomos para a parte de apagar as velas e cortar o bolo.
Quando a festa acabou, eu me senti estranha. Meio vazia.
Entrei na internet pra ver recados de amigos. Nada no mundo vale mais do que estar perto da sua família e se sentir cercada de amigos. Me admirei com alguns recados, ri de outros, respondi alguns...
Mas faltava alguma coisa.
Me forcei a acreditar que o uísque que estava dando essa sensação estranha e fui dormir encafifada (sim, eu uso o adjetivo "encafifado", e você que é feio?)
Não sabia o porquê, não tinha ideia.
Mas realmente faltava alguma coisa.
Hoje de manhã - já com 23 anos completos, de ressaca, parecendo um panda por causa da maquiagem mal tirada da noite anterior - minha mãe me acordou.
"Ma, levanta! Vamos tomar café juntos"
Foi quando entendi o que estava faltando:
Café da manhã especial
(1 dia atrasado, mas, ainda assim, especial)
Não era um pão diferente, ou bolachinhas, ou mamão, ou xícaras brancas.
Faltava tudo isso feito com carinho e curtido sem pressa, na companhia da melhor família do mundo.