Ouro de mina

29 de maio de 2011

Desde que me conheço por gente, funciona assim:
Eu acordo cedo, depois que toda a casa já acordou e entrou em movimento. Saio da cama, escovo os dentes, lavo o rosto, arrumo o cabelo e o pijama - como se acordasse sem cara de sono todas as manhãs - e vou até a sala de jantar me preparando para a surpresa.
SURPRESA! BOM DIA! PARABÉNS, QUERIDA!
Abraço minha mãe, meu pai, minha irmã e meus irmãos, admiro a mesa de café da manhã repleta de gostosuras e sorrio quando vejo o arranjo de gérberas com um cartão que está sempre assinado por todos, inclusive pela minha cachorrinha. Gérbera é minha flor preferida.
A gente toma café falando da vida e rindo e discutindo como vai ser a festa naquela noite.
E o dia é uma loucura. Arruma aqui, limpa ali, minha mãe surta - porque ela sempre surta antes das festas - e no final está tudo pronto.
Então chegam os amigos.
Quem me conhece sabe que, no geral, são muitos.
A casa fica cheia de gente e de sorrisos e de abraços e de beijos e de olhares de orgulho e de tias que se admiram com a velocidade com que o tempo passa.
Alguns anos atrás, eu preparava brincadeiras para as festas. Pensava em como me divertir com os amigos, em como fugir na hora do Com Quem Será, em como fingir que estava feliz por ganhar uma roupa e não um brinquedo.
Achava, inclusive, que gostava tanto de aniversários por causa dos brinquedos. Bonecas não. Nunca gostei de bonecas. Brinquedos! Bola, peteca, jogos de tabuleiro...porque não gostava de estar sozinha nem na hora de brincar.
Mas os anos foram se passando e comecei a ligar cada vez menos para os presentes.
Gostava das festas e pronto. Com presente, sem presente, com frio, sem frio, com bolo, sem bolo, com brigadeiro, com brigadeiro (brigadeiro é obrigatório), e sempre, após a festa, eu ia dormir me sentindo a pessoa mais feliz do mundo.
Isso até sábado passado.
Sábado passado foi meu aniversário.
Minha mãe teve de trabalhar a manhã toda e, quando acordei,  já eram 11 horas da manhã. Simplesmente me levantei e fui pra sala, com cara de sono mesmo. Abracei quem estava acordado e ganhei uma flor linda, num cachepô mais lindo ainda. Sentei e tomei café. Minha mãe chegou mais tarde com um buquê - com gérberas - e almoçamos correndo pra arrumar as coisas pra festa.
As pessoas chegaram e me abraçaram e sorriram e trouxeram presentes.
Nenhum brinquedo.
Mas tudo bem, afinal, só o corpinho e a altura são de criança, as velas do bolo já apontam uma idade relativamente avançada.
Ta, avançada não, mas avançada demais para esperar brinquedos no aniversário.
E a festa foi linda! Muitos amigos, muita comida boa, muitos tios e primos.
Cantaram parabéns, e eu não me escondi no Com Quem Será. Pra ser sincera, queria que tivessem algum nome pra cantar no final da musiquinha, mas ninguém sabia o que dizer, nem eu, então pulamos essa parte e fomos para a parte de apagar as velas e cortar o bolo.
Quando a festa acabou, eu me senti estranha. Meio vazia.
Entrei na internet pra ver recados de amigos. Nada no mundo vale mais do que estar perto da sua família e se sentir cercada de amigos. Me admirei com alguns recados, ri de outros, respondi alguns...
Mas faltava alguma coisa.
Me forcei a acreditar que o uísque que estava dando essa sensação estranha e fui dormir encafifada (sim, eu uso o adjetivo "encafifado", e você que é feio?)
Não sabia o porquê, não tinha ideia.
Mas realmente faltava alguma coisa.
Hoje de manhã - já com 23 anos completos, de ressaca, parecendo um panda por causa da maquiagem mal tirada da noite anterior - minha mãe me acordou.
"Ma, levanta! Vamos tomar café juntos"
Foi quando entendi o que estava faltando:

Café da manhã especial
(1 dia atrasado, mas, ainda assim, especial)

Não era um pão diferente, ou bolachinhas, ou mamão, ou xícaras brancas.
Faltava tudo isso feito com carinho e curtido sem pressa, na companhia da melhor família do mundo.

Quadrado

16 de maio de 2011

Metrô. Barra Funda. 19h. 20 pessoas por metro quadrado.
Fila pra comprar o bilhete. Fila pra passar na catraca. Fila pra descer a escada rolante. Fila pra entrar no metrô.
Uma velhinha na minha frente, duas meninas atrás de mim. Todas espremidas.
Meu fone de ouvido esquecido em algum lugar de Itatiba.
As meninas atrás de mim começam a conversar.

- Menina, essa pílula tá me dando uma dor de cabeça!
- Troca.
- Pra quê? É tudo igual.
- É nada. To tomando uma pílula que não me deixa menstruar. O que é ótimo, porque além de eu não engravidar, evita cólica.
- Não menstrua?
- Não. Tomo pílula todo dia. Elas são diferentes. Umas coloridinhas, outras brancas, varia a quantidade de hormônio.
- Ah...sei lá...sou meio quadrada. Acho que se Deus fez a mulher pra menstruar, tem que menstruar.
- ...Sei...
- E outra, deve fazer mal ficar com o sangue todo acumulado.
- Oi?
- É, já pensou? Deve coagular lá dentro.
- Meu...nada a ver...deixa eu explicar, a pílula...
- Ai, que horror! Pensa. Pra onde vai o sangue coagulado? Deve ser duro tirar isso depois.

Nisso o trem entra na estação. A velhinha na minha frente dá um jeito de virar para trás e cutucar uma das meninas.

- Mocinha.
- Oi, senhora.
- Quadrada sou eu que quero que meus netos casem virgens. Você é burra mesmo.

O trem para, a porta se abre e a velhinha vai embora.

O Desafio das Listas - Little 12/05

Dizem que sou um livro aberto.
De certa forma, é verdade.
Não tenho problemas em me expor.
O que, às vezes, gera problemas.
Mas é uma exposição superficial, suficiente para matar a curiosidade dos poucos curiosos.
Se fosse realmente comparar minha vida a um livro, diria que a maioria das pessoas lê no máximo as orelhas e a introdução. E olha lá. A maioria não passa dos agradecimentos da primeira página.
Por vários motivos.
A questão é que, mesmo que alguém queira ler tudo, vai ser difícil.
Algumas páginas eu arranco e escondo até de mim. 
Outras eu guardo pra mostrar um dia. Pra alguém.
Esse alguém pode até ser eu mesma, vai saber.
Por enquanto, falemos sobre pequenos detalhes dos quais vocês talvez não saibam.


"Coisas que eu queria que meus leitores soubessem sobre mim"


1. Sou faixa verde de caratê, ou fui, sei lá. Acho que essas coisas a gente não deixa de ser, mesmo depois que para de treinar.
Treinei por 5 anos, participei de alguns campeonatos, ganhei alguns deles. Eu era boa nisso.
Boa, não excelente.

2. Sou formada em Tradução. Sim, esse curso existe. Existe em várias universidades, na verdade, mas em poucas públicas. Estudei na UNESP de Rio Preto.
Meu objetivo, desde o segundo colegial, era ser tradutora.
A ideia era simples: fazer faculdade de letras, me especializar em tradução e depois, só depois, entrar no mercado de trabalho (pff, coitado do meu pai, já pensou? Sustentar a marmanja e mais os dois marmanjinhos até o fim da faculdade não ia ser fácil).
Descobri a existência do curso no momento da matrícula.
Um daqueles momentos que mudam o rumo da vida toda.
E trabalho desde o primeiro ano.

3. Nunca fui uma aluna nota 10, mas sempre fiquei ali entre o 6,5 e o 9.
Por vagabundagem, confesso. Principalmente depois que a matemática saiu da minha vida.
Nunca me esforcei o suficiente pra tirar 10. Estudava o que achava necessário e depois ia fazer outras coisas de que também gostava. Sair com os amigos, por exemplo. Ou dormir.

4. Namorei sério 4 vezes: Dois namoros duraram mais de 1 ano, os outros dois, menos de três meses. Esses de  meses me machucaram mais.

5. Vou fazer uma tatuagem que represente a Língua Espanhola. Não a parte do corpo que fica dentro da boca, é óbvio. Mesmo porque a língua brasileira é bem mais interessante. A ideia é tatuar as interrogações "¿?" Mas ainda não pensei num jeito de deixar isso legal pra uma tatuagem.


O Desafio das Listas - Suuuuuuucesso 11/05

11 de maio de 2011

Eu estava achando muito fácil esse lance de escrever em listas (o que não diminui de maneira nenhuma a ideia). Talvez porque, até agora, os temas exigiam respostas que me pareciam óbvias e simples.
Isso, é claro, até eu ver o tema de hoje.

"A melhor coisa que aconteceu no seu blog, ever"

Minha primeira reação ao ver o tema foi: E agora José? Vou ter que escrever sobre AS melhorES coisaS. Primeiro por serem muitas, segundo que, a priori, devo citar pelo menos três tópicos em cada post (minha regra, lembra?).

1. Diário de Bordo: Quando viajei para Santiago de Compostela, o blog me serviu como um diário de bordo indireto.
Oi? Como assim?
Bom, não escrevia todos os dias, o que acaba com o termo "diário", e não falava diretamente sobre o que me acontecia, o que tinha comido, quantas vezes usava o banheiro, nada disso. Falava sobre sensações. Hoje esses textos me avivam mais a memória daqueles meses felizes do que muitas fotos.

2. Minha mãe: Minha mãe já existia antes do meu blog. Claro. Esse tópico é dela porque ela é minha leitora mais importante. Mas ela não sabe disso. Bom, não sabia. Comentei com ela que tinha um blog, assim, sem pretensões de que ela realmente fosse procurar saber a respeito (não é uma pessoa de internet).
Mas ela procurou, leu (todos!) os posts e depois veio me falar o que pensava a respeito.
- Li.
- Qual?
- Todos.
- E aí?
- Não gostei dos primeiros, muito depressivos, muitos palavrões.
- E os últimos.
- São ótimos.
- Por que?
- Me falam mais sobre você, mesmo sendo mais indiretos do que os primeiros.
- Que bom que gostou.
- E eu nunca mais te mando comida pra semana, sua ingrata.
- Ah, mãe!!!

3. Comentários: Acho que o tópico "Comentários" vai aparecer em 3/4 das minhas listas. Não reparem. Me refiro aqui, especificamente, a comentários que recebi de gente que admiro muito. Não vou citar nomes, só posso dizer que é uma honra receber comentários de gente que sempre tomei como modelo, sejam amigos, sejam familiares. A blogosfera tem muito disso, "ídolos" que um dia simplesmente comentam num post seu e te deixam sem ação, com cara de besta.
Recebi alguns comentários que me deixaram assim.

Bom, por hoje é só.
Gostaria só de dizer que não vou poder postar todos os dias. Por falta de tempo e porque alguns temas não podem ser aplicados aqui.
Mas por enquanto vamos levando!
Até amanhã.


O Desafio das Listas - O que faz você feliz? 10/05

Muitos aí podem até dizer que hoje já é dia 11, que eu entrei no desafio de escrever todos os dias e já me dei mal no segundo dia, mas, como eu não dormi, ainda é dia 10 e ainda estou dentro do prazo!

A lista do dia é:

“Suas coisas favoritas relacionadas aos blogs – o que faz você feliz?”


1. Por tudo pra fora: Como expliquei no post anterior, a ideia inicial deste blog era justamente essa. Por tudo pra fora. Todas as minhas tristezas, meus desafetos, meus monstros, meus medos. Com o tempo também comecei a por minhas alegrias, conquistas, visões de mundo.
É claro que adoro visitas! Aviso dos textos novos no twitter, facebook, orkut, correio, mando sinais de fumaça... mas este blog, desculpem a franqueza, foi feito principalmente pra que eu me sentisse melhor comigo mesma.

2. Ser lida: Bom, o blog é meu, eu fiz pra mim mesma, mas nada, absolutamente NADA no mundo é melhor que ver gente se interessando pelo que escrevo. Não tenho leitores, os leitores que me têm e me conquistam cada vez mais a cada comentário de aprovação ou crítica (ooouuunn...brega).

3. Amigos da Blogosfera: Poxa vida, como eu conheci gente por causa do blog! Algumas pessoas cheguei até a conhecer pessoalmente, chamei pra churrascos e tal. Outras ainda não tive o prazer de conhecer pessoalmente. Ainda. São amigos que sinto que conheço há séculos, alguns eu nem lembro mais como conheci, mas guardo aqui num cantinho do peito... e do blog, claro.

4.Comentários: Esse tópico está aqui para reforçar a importância dos comentários. Sim, isso é pra você, leitor, que muitas vezes vem até aqui, lê os textos, gosta ou desgosta e eu nem fico sabendo. Tratante! Deixe seu pitaco! Mais que fazer uma criança feliz, você tratá mais vida ao Peripécias.

Essas são algumas das coisas que me fazem feliz em relação aos blogs. Desafio do segundo dia: Vencido!
Agora eu vou dormir, dia 11 já tá batendo aqui na porta.
Até amanhã.

O Desafio das Listas - Inlfuências 09/05

9 de maio de 2011

Pela primeira vez na história, o Peripécias nas Entrelinhas tem a honra de participar de uma brincadeira da blogosfera.
O Desafio das Listas, proposto pelo Blosque, chegou ao meu conhecimento por uma amiga de nome lindo que fiz, justamente, na blogosfera.
Já que sou uma pessoa desocupada que adora brincadeiras, topei o desafio!
Então vamo que vamo!
Só explicando para os leitores do blog, a partir de hoje tentarei fazer um post por dia, criando listas a respeito dos temas propostos para cada dia.

Minhas listas conterão no mínimo três tópicos e no máximo cinco. Essa é a única regra que me impus.

O primeiro tema:
“Blogueiros que influenciaram ou inspiraram você”

Se me permitem, falarei dos BLOGS que mais me influenciaram ou inspiraram, citando, obviamente, os respectivos blogueiros.
Fiz um blog pela primeira vez com 15 anos. Não tinha nome nem nada, era só um diário que surgiu com a modinha dos blogs e virou fumaça, assim como toda modinha.
Depois de alguns anos afastada da blogosfera, passei por momentos bastante difíceis e acabei encontrando na escrita uma fuga da tristeza. Jogava as palavras num caderninho e me sentia melhor.
Um dia esse caderninho acabou.
Foi mais ou menos nessa época que surgiu o primeiro Blog da minha lista de hoje:


Meu grande amigo Tyler criou um blog. Na época ele não era exatamente um grande amigo, mas era uma pessoa por quem eu tinha grande apreço. Confesso que entrei no blog dele pela primeira vez para vasculhar descobrir se ele estava bem, como andava se sentindo (É segredo, hein! Não contem pra ele). Não esperava me apaixonar completamente...pelos textos, no caso.
Foi me baseando nesse blog que criei o Peripécias. Não nos textos em si, porque eu nunca escrevi um quinto do que o Tyler escreve, mas na ideia de ter uma página virtual. A princípio, apenas um espaço para textos depressivos e, muitas vezes, ruins, mas que, com o tempo, tomou outro formato.
Descobri que também conseguia escrever (e gostava!) quando estava imensamente feliz.
Assim, os textos foram ganhando outro tom e atraindo poucos e fieis leitores como o próprio Tyler, que me indicou o segundo blog dessa lista.


Um autor misterioso, engraçado, intenso e genial. Inúmeras foram as vezes que rolei de rir e chorei de soluçar diante de textos de Rob Gordon.
Quando conheci o Champ, ele já tinha muitos seguidores. Tinha vergonha de comentar nos textos, que sempre me pareceram impressionantes, então lia quietinha, anônima.
Mais que uma influência, o Champ sempre foi um modelo pra mim. Foi lendo o Champ que comecei a levar o blog a sério, a pensar e repensar meus textos, a querer leitores, comentários. Foi lendo o Champ que entrei de vez na blogosfera.
E foi pelo Champ que conheci o terceiro blog dessa lista.


Não é pro Rob Gordon se achar não, mas eu estaria mentindo se não colocasse os dois blogs dele aqui.
O Chronicles nunca teve tantos comentários ou seguidores quanto o Champ-Vinyl, mas gosto mais dele. É mais intenso, visceral. Me atrevi a comentar em poucos textos, simplesmente porque, muitas vezes, não tinha o que comentar. Sempre termino de ler os posts e penso: "CARACA...tipo...UAU!" Como tenho vergonha de comentar algo tão babaca, fico quietinha. E leio, e choro, e rio, e sinto aperto no peito...e, bom, aguardo ansiosamente o lançamento do Anônimos e Urbanos 2, já que o primeiro - uma compilação dos melhores textos do blog, com alguns inéditos - foi um sucesso.

Mudando um pouco de assunto, sempre fiz amigos com facilidade. Mesmo! E conheci grandes amigos na faculdade, entre eles alguns professores. A minha segunda mãe Uma das professoras, a Solange, um dia disse na sala de aula que a filhinha dela tinha um blog. Eu já estava gostando da blogosfera e decidi conferir se a menina escrevia tão bem quanto a mãe pintava...porque, convenhamos, a opinião dela era meio suspeita. Foi assim que conheci o quarto blog da lista:


"Como assim ela escreve bem desse jeito? É mais nova que eu! Eu nunca conseguiria escrever bem assim!" - Esse foi o primeiro pensamento que me veio à cabeça quando li os textos do Carnavalize. É claro que idade, nesse caso, não é documento, ainda que pudesse ser uma ótima justificativa para a altíssima qualidade dos textos do Rob Gordon (perco o amigo mas não perco a piada Mode: on), mas realmente me surpreendi. Os textos da Julia me impulsionavam a escrever, me inspiravam. Mas aí ela foi pra África do Sul e parou de postar com frequência. Acontece, sei bem como é, o Tyler fez a mesma coisa quando foi pra Espanha. Neste ano tive o prazer de conhecê-la, finalmente. E de pedir pra que ela voltasse a postar pelamordedeus.
Deu certo!


O quinto blog da lista eu conheci por causa do meu blog, o que o torna bastante especial. Um dia,num dos textos mais intensos que já escrevi, a Marina fez um comentário que me puxou para o blog dela. Virei fã. Textos lindos que se completam com as imagens que acompanham cada postagem.
Além do nome da autora, né? Tudo de muito bom gosto.

Poderia ainda citar outros blogs maravilhosos que sigo e leio com frequência, mas a ideia era citar as grandes influências para o Peripécias, e esse primeiro desafio foi cumprido. E nem foi lá muito difícil.
Até amanhã.

Em Paz

2 de maio de 2011

Quando me encontrei com ele, descobri que o que doía não era a falta dele, era a falta do que ele me fazia sentir.
Tinha saudade não de um corpo, ou de um rosto, ou de um toque.
A saudade era do peso do corpo que se encaixava como eu queria, do toque que me fazia arrepiar, do frio na espinha a cada palavra sussurrada no ouvido, do olhar que me enxergava.
Durante muito tempo sonhei com o rosto dele, pra agora descobrir que meu peito só precisava de um rosto.
Só isso. Não necessariamente do dele, mas do de alguém que representasse a minha entrega.
Quando olhei pra ele e não vi nada, percebi que só o rosto não me valia.
Instantaneamente, assumiu seu lugar no meu peito um Não-Rosto. Um vazio.
Vazio que eu já conhecia.
Quando me afastei, senti um nó na garganta. Chorei de dor. Dor mesmo. Porque esse vazio, esse nada, dói pra caramba.
Ele arrombou uma porta que eu sempre mantenho trancada. Nem bateu. Chegou chutando, mas com delicadeza, e me encontrou escondida lá dentro, sentada no chão, abraçada com meus joelhos.
Ver a luz de fora pra quem está há tanto tempo no escuro não é fácil. Se sentir sozinha na hora de enfrentar essa luz, também não.
Era disso que eu me escondia, acho. Dessa solidão em meio a tanta gente que eu sinto agora.
No entanto, descobrir que não devo essa solidão a um rosto, mas ao que posso sentir por alguém, saber que posso encontrar em outros rostos o sorriso que resumia tudo o que eu buscava no mundo e, mais que isso, saber que não quero voltar pro escuro mesmo sentindo um impulso enorme de fazer isso, me deixou aliviada.
E esse alívio sobrepôs qualquer vazio.
Esse alívio me deixou em paz.