Um punhado de ar

25 de fevereiro de 2011

Triiiiim, acorda, pulAdaCama. Vai, desperta, o dia começou. A n d a - n o - m e i o - d o - p o v o, corre, pega o metrô. Chegaatrasadaesenta.  Ufa!  Levanta, pega café, senta de volta, trabalha, trabalha,trblaha, trlabaha.
- Oi.
- Oi(trabalha,trblaha, trlabaha)
- Como você é?

- Ah... Eu?
- É.
- Que pergunta estranha... Ah...sou assim, assado. Nada demais.
- Defina "Nada demais".
- Nada interessante.
- Defina "interessante".
- Nada que chame a atenção.
- Chamou a minha.
- Por que? Eu só trabalho, você mal me conhece.
- O seu sorriso.
- É frouxo.
- Seu papo.
- É velho.
- Seus olhos.
- Tá, os olhos... Talvez dos olhos você tenha razão. Esses olhos já viram coisa demais, muitas vezes diferentes do que o cérebro podia processar. Muitas vezes coisas feias, más. Mas também coisas boas. Muitas coisas boas. Meus olhos são de uma mulher de 80 anos, não só pela miopia. Pela vivência. Mais ativos que meus olhos, só meus braços. Que tentam sempre abraçar o mundo e pouco conseguem além de um punhado de ar.
- Do que você precisa?
- De tanta coisa.
- Mas o que é imprescindível?
- Posso ser sincera?
- Claro.
- Ocupa o lugar desse punhado de ar entre os meus braços. Não preciso de mais nada.